Memória e Resistência na literatura de Conceição Evaristo, com Pilar Bu

Conceição Evaristo figura como uma das grandes escritoras da literatura brasileira contemporânea.

A partir de excertos de obras da autora, em especial "Ponciá Vicêncio" e "Poemas da Recordação e outros movimentos", vamos explorar como a elaboração do passado é atravessada por questões de raça, gênero e classe em sua escrita, e como esses atravessamentos são extremamente importantes para tecer críticas à sociedade em que vivemos.

Em uma perspectiva feminista e decolonial, abordaremos a condição feminina, as violências e resistências que são operadas pela autora em revoluções diárias, aparentemente simples, mas que mobilizam transformações sociais potentes. Questões como memória cultural e ancestral; tempo espiralar e oralitura; a presença de orixás; o corpo como lugar de memória; o esquecimento como sobrevivência e resistência; e a ocupação da cidade por mulheres negras serão alguns dos temas presentes.

Como principais autores traremos à discussão as perspectivas teóricas de Achille Mbembe, Leda Martins, bell hooks, Mirian Santos, Eduardo de Assis Duarte, Nei Lopes, Sueli Carneiro e a própria Conceição Evaristo, enquanto pensadora e intelectual negra.  As aulas serão expositivas, com espaço para debates, no intuito de construir o conhecimento coletivamente.

Programa:

Aula 1

Para uma memória latino-americana: os interditos, as disrupções e mulheres anarquivadas. A potência da ancestralidade.

No primeiro encontro, vamos pensar na memória dentro do contexto latino-americano. A partir de trechos de obras de Conceição Evaristo, vamos pensar como a autora subverte a lógica eurocentrada e a importância da escrevivência, para operacionalizar essa subversão às múltiplas dominações.

Aula 2

Cidade sitiada: memória e violência no corpo e no texto.

Mais do que um lugar de encontro, a metrópole é um espaço simbólico de disputa discursiva e social. Corpo e texto revelam as tramas e as apropriações do espaço urbano. Nesse encontro, pensaremos como as mulheres negras ocupam a cidade em alguns textos de Conceição Evaristo.  Quais lugares são permitidos, quais são interditados e de que maneira elas transitam?

Aula 3

Ponciá Vicêncio e o esquecimento como resistência.

Muito se fala da loucura em Ponciá Vicêncio, mas este é de fato um livro apenas sobre isso, ou nas tramas de um aparente despertencimento existe mais coisa escondida? A partir da leitura em classe de trechos desse livro, vamos investigar os conceitos de tempo espiralar, escrevivência, memória cultural e ancestral, interligando-os com a necessidade de resistência à sociedade racista e machista.

Não há pré-requisitos. Todos aqueles que se interessam pela obra literária de Conceição Evaristo e por pensar as temáticas afro-diaspóricas, em especial a questão da memória como um lugar de resistência.

Pilar Bu (Sul do equador, 1983) é poeta, leoa, sereia e mãe felina de 4 gatos. Doutoranda em Teoria Literária na Unicamp, desenvolve pesquisa a respeito da memória de mulheres na literatura brasileira contemporânea de autoria feminina. É Mestra em Estudos Literários pela UFG e estudou a condição feminina, o corpo, a voz e a resistência em poemas de autoria de mulheres da literatura marginal-periférica de São Paulo. É professora, pesquisadora e articula principalmente os temas: literatura contemporânea brasileira e latino-americana escrita por mulheres; representação e autorrepresentação feminina na literatura; teoria e crítica literária; estudos de gênero pelas perspectivas decolonial e interseccional; e estudos da memória. Autora de Bruxisma (2019: Urutau) e Ultraviolenta (2017: Kotter), contribuiu em revistas eletrônicas e antologias. Fundadora e mediadora do Leia Mulheres Goiânia. Participa do grupo de pesquisa horizontal Ursuliñas. Só acredita na vida se for pra ser compartilhada e coletiva.