O que é sexo? Não é algo que precise de duas pessoas, não é algo que se limite a elas também. Não precisa haver penetração (seja de pênis, mãos e dedos ou sex toys). O que são preliminares? Envolve genitais? O que é o gozo?
O sexo como tabu é uma das ferramentas de manutenção da validação do sexo por seu potencial reprodutivo. Quem não questiona o que é e onde começa o sexo não deixa de fazer um sexo careta, comum, sem vontade. E se você tiver uma vulva e não questionar, pode viver uma vida inteira sem nunca gozar.

foto de Fábio Rocha
Quando Taís Bravo escreve "essa semana já perdi as contas/ de quantas vezes deitei comigo/ e gozei" não fala apenas do prazer físico de pessoas com vagina, que não são ensinadas e estimuladas a se tocarem desde a juventude, mas também de um rompimento com a ignorância do próprio corpo. Quando se goza sozinhe, sabe-se mais de si. Prazer esse que, dependente apenas de si, é potente em sua qualidade e quantidade. Prazer esse ainda hoje negado há muites.

Logo em seguida ela apresenta sua ignorância, o desconhecimento do motivo por aquele gozo sublime: é exatamente a ausência desse outro (um homem que completa nossas vidas e cavidades e um dia nos presenteará, boa alma, com um filho) que a sociedade espera fazer parte do ato sexual. A ignorância se apresenta como libertadora porque advém da escolha de não ser colocada no espaço normativo escolhido à sua revelia.
Ao escrever um poema erótico que rejeita o falo como fonte de prazer, Bravo confronta todo a economia sexual conservadora (que ocupa corações e mentes de muito progressista heterossexual inclusive) e conquista seu espaço fora das normas tendo como guia os próprios "dedos treinados sob pressão".

Bárbara Krauss é jornalista formada pela UMESP e responsável pelo B de Barbárie, espaço de divulgação cultural e narrativas políticas nas plataformas do Youtube e do Instagram (@bdebarbarie) desde 2017.
A #poesiaqueer faz parte de nosso projeto de acervo literário, onde convidamos escritoras(es), tradutoras(es) e pesquisadoras(es) para realizar uma curadoria inclusiva, refletindo sobre questões do fazer literário, que envolvem especialmente raça, gênero e orientação sexual.
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