Essa aula gratuita marca o início das atividades de nossa oficina permanente de poesia, Laboratório de Poemas, comandada pelo poeta Dirceu Villa, não há pré-requisitos.  

Jorge Luís Borges (1899-1986), um dos mais notáveis escritores do século XX (e um dos pilares do nosso Laboratório do Poema) fez de tudo um pouco desde o seu nascimento na Argentina: ensaio, poesia, ficção, crítica literária, tradução. Mas talvez possamos dizer, que todo o seu trabalho tem um foco singular, e esse é o do ensaio, que em Borges vai tocar cada uma das formas nas quais escreveu. Talvez porque possamos também dizer: Borges está fundamentalmente interessado no saber.

Suas obras completas já foram traduzidas para o português e para uma grande porção de outras línguas, dada a fama extraordinária que sua literatura difícil estranhamente adquiriu, ainda em sua vida. Foi Borges quem nos ensinou a inventar referências inexistentes mas verossímeis, a considerar a reescritura como escritura (com Pierre Menard), quem supôs os horrores de uma memória que nada esquecesse (com Funes), que concebeu o próprio mundo como uma biblioteca (extrapolando Mallarmé), quem extraiu das hipóteses do hebraico, como do anglo-saxão, magia mnemotécnica e música metafórica.

Veremos, portanto, como Borges pôde transitar de um gênero a outro, transformando cada um que tocou em algo singularíssimo, por um lado só seu, e que deu, por outro, origem a uma escrita ficcional agora misturada com o próprio ensaio: bastam os exemplos de Umberto Eco e W.G. Sebald para entendermos a extensão do “efeito Borges”. Veremos também o que Borges nos ensina sobre a poesia, seja como autor, seja como comentador. E veremos, por fim, como Borges pôde reconfigurar a historiografia literária a partir de um texto breve, “Kafka y sus precursores”.

Partiremos de suas ideias e textos para compreender o novelo espesso desse autor refinado como os antigos eruditos da Renascença, engenhoso como os antigos autores do Barroco espanhol e articulado elegantemente como um La Bruyère, e que conseguiu se tornar um dos mais ousados e inventivos escritores modernos, com um pendor didático que fez dele, como já se disse numa edição de suas conferências, o “Professor Borges”.

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LABORATÓRIO DE POEMAS

Dirceu Villa (1975, São Paulo) é poeta, tradutor e ensaísta, autor de sete livros de poesia, sendo os últimos couraça (2020) e ciência nova (2022), publicados pela Laranja Original. Possui doutorado em Literaturas de Língua Inglesa e pós-doutorado em Literatura Brasileira, ambos pela USP. Colaborou com periódicos estrangeiros e escreveu apresentações para obras de diversos autores contemporâneos. Participou dos festivais de poesia de Berlim, na Alemanha (2012); Granada, na Nicarágua (2018) e Siena, na Itália (2019). Foi escolhido para a residência literária, promovida pelo British Council, a FLIP e o Writers’ Centre Norwich, em Norwich e Londres (2015). Sua poesia já foi traduzida para o espanhol, o inglês, o francês, o italiano e o alemão, publicada em antologias e revistas especializadas. Desde 2014, é professor da Oficina de Tradução Poética da Casa Guilherme de Almeida (Centro de Estudos de Tradução Literária). Desde 2020, é professor do CLIPE (Curso Livre de Preparação de Escritores) do Museu Casa das Rosas e professor do Laboratório de Poemas d'A Capivara Cultural.