FORMA EM FUGA: A Escrita do Ensaio, com Gustavo Silveira Ribeiro

A partir da análise detida de textos teóricos sobre o gênero e de uma série de ensaios de referência, o curso pretende oferecer subsídios para uma melhor compreensão das múltiplas possibilidades do ensaio, contribuindo também para a formação de um repertório mínimo e um pouco menos óbvio de leituras.

A cada encontro, o foco das discussões irá recair sobre o trabalho de um ensaísta em particular, a partir do qual questões mais amplas de método e técnica, e também conexões com outros autores e textos, serão propostas.

Combinados a essa empreitada teórico-crítica, os encontros querem também servir como uma oficina mínima, na qual os estudantes possam, através dos exercícios oferecidos e comentados, desenvolver o seu próprio texto, produzindo, ao final do curso, um ensaio que será discutido, oralmente e por escrito, com cada um dos participantes.

PROGRAMA

Encontro I

Walter Benjamin

O mergulho profundo no objeto do ensaio como um modo de encontrar, transformado por esse contato, a si mesmo (Adorno). A variedade do estilo benjaminiano, suas técnicas: a mimese do objeto e de sua linguagem; a escrita como  colagem; a mistura impura de referências históricas e culturais, teóricas e filosóficas; o apreço pelo paradoxo e pelo fragmento; associação e analogia; o pensamento que se faz por imagens (Arendt). As áreas do saber em choque e em confluência: sociologia, filosofia da linguagem, marxismo, teologia judaica, história e crítica literária.

“Sobre alguns temas em Baudelaire”

(texto base)

“Paris, capital do século XIX” (exposé 1939)

“Desempacotando minha biblioteca”

(outras leituras)

Encontro II

Joan Didion

O ensaio entre a narrativa pessoal e a reportagem. A cultura contemporânea como um convite e um desafio: a elaboração de uma linguagem e de um gênero particular. O novo jornalismo americano e a fluidez da escrita narrativa e da prática reflexiva: atravessar os gêneros, ampliar (ainda mais) o campo de ação do ensaio. A contracultura, o underground e as novas formas do sensível e da política como peça de resistência contra a qual inventar e afiar o estilo.

“Rastejando até Belém”

(texto base)

“Sobre ter um caderno”

“Georgia O’Keeffe”

(outras leituras)

Encontro III

Maria Filomena Molder

O ensaio como interrogação filosófica permanente, forma-força que pode, ao mesmo tempo, lançar sobre o mundo a sombra da suspeição e a claridade firme capaz de desprender, de cada obra de arte ou conjunto de ideias, a energia que neles estava represada. A força política da atenção e da intempestividade: encontrar (e expor) nos  textos antigos e modernos os seus meandros íntimos, seus mecanismos essenciais; despertar, nas cinzas da tradição, a centelha viva que ainda queima e quer incendiar o presente.

“Cerimónias”

(texto base)

“Lança teu pão sobre as águas: sobre o Qohélet/ Eclesiastes” [questões de filologia]

“Vivo, moribundo, morto”

(outras leituras)

Encontro IV

Flora Sussekind

A prática crítica e as artimanhas do ensaísmo: concentração, variação, expansividade.  O ensaio como modo de intervenção no presente: o mergulho no contemporâneo como estratégia. A passagem (tensa, problemática, rica) entre a reflexão acadêmica e a atuação na imprensa e nas instituições culturais do Estado. O gosto pela polêmica e o deslocamento das ideias-fixas: independência, invenção, erudição. A viagem, o arquivo, a cidade e a técnica: alguns temas de F. S.

“Desterritorialização e forma literária: literatura brasileira contemporânea e experiência urbana”

(texto base)

“Objetos literários não identificados”

Literatura e vida literária – polêmicas, diários & retratos [trechos]

(outras leituras)