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Pregos de Zheng Xiaoqiong traduzido do chinês por Inez Xingy #tradução&poesia por Francesca Cricelli




Zheng Xiaoqiong, nascida em 1980 em Nanchong, província de Sichuan. Em 2001, acompanhando a onda migratória interna chinesa, mudou-se para Guangdong, onde trabalhou como operária. É uma das poetas mais importantes da sua geração, tendo seu trabalho sido publicado em numerosas revistas. Seu livro Nugong ji (“Mulheres Trabalhadoras Migrantes”) é a primeira coletânea de poemas sinfônicos sobre a mulher, o trabalho e o capital, tendo sido traduzida para mais de sete idiomas. Sua tradutora aqui é Inez Xingyue Zhou. Inez doutorou-se em Literatura Comparada pela Universidade de Califórnia Santa Bárbara e trabalha como bolsista pós-doutoranda na Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul (SUSTech), China. O seu interesse de pesquisa inclui poesia moderna em inglês e português, poética comparada, estética do lixo, e humanidades ambientais.



Francesca Cricelli





铁钉 (Pregos)

郑小琼 (Zheng Xiaoqiong)

有多少爱,有多少疼,多少枚铁钉

把我钉在机台,图纸,订单,

早晨的露水,中午的血液

需要一枚铁钉,把加班,职业病

和莫名的忧伤钉起,把打工者的日子

钉在楼群,摊开一个时代的幸与不幸

有多少暗淡灯火中闪动的疲倦的影子

多少羸弱、瘦小的打工妹在麻木中的笑意

她们的爱与回忆像绿荫下苔藓,安静而脆弱

多少沉默的钉子穿越她们从容的肉体

她们年龄里流淌的善良与纯净,隔着利润,欠薪

劳动法,乡愁与一场不明所以的爱情

淡蓝色的流水线上悬垂着的卡座

一 枚枚疼痛的钉子,停留的片刻

窗外,秋天正过,有人正靠着它活着






PREGOS

Quanto amor, quanta dor, quantos pregos de ferro

Fixaram-me na placa desta máquina, matrizes, formulários de pedidos,

Orvalho da manhã, sangue no meio dia

Um prego de ferro é preciso para segurar as horas extras, as doenças vocacionais

E uma tristeza inefável, atando as vidas dos trabalhadores migrantes

Sobre complexas construções, desdobrando a fortuna e o infortúnio de uma era

Quantas sombras fatigadas tremeluzindo na fraca luz elétrica

Quantos sorrisos dormentes das trabalhadoras frágeis, magras e pequenas

Seus amores e suas memórias como musgo sob a folhagem, serenas e delicadas

Quantos pregos silenciosos atravessam suas carnes e seus ossos plácidos

A bondade e a inocência fluindo na sua idade, separada do lucro, devo-lhes-salários

Lei trabalhista, nostalgia e um amor incompreensível

Na pálida fileira azul de montagem balançam os bancos da plataforma

Um após o outro, os pregos dolorosos, por um instante se detém

Fora da janela, passa o outono; alguns dependem dele para sobreviver.




Traduzido do chinês por Inez Xingyue Zhou

Tradução publicada originalmente na revista Lavoura - volume 6






An Iron Nail - 铁钉


Rachel C. Walker, abril de 2019, Pequim.

Inspirado na poesia de Zheng Xiaoqiong - 郑小琼. "Quando visitei Xiaoqiong em maio de 2018, ela me levou a Dongguan para ouvir os sons das fábricas em primeira mão. Cada fábrica parece única: uma fábrica de plástico, uma fábrica de hardware, uma fábrica de eletrônicos... Pouco a pouco acumulando ferrugem, aos poucos engolindo ela..."


Este trabalho é dedicado a Zhang Yongyun e a Zheng Xiaoqiong. Percussão: Xinyi Zheng e Yongyun Zhang











#tradução&poesia - Curadoria de Francesca Cricelli



Francesca Cricelli, é poeta e tradutora literária. Cresceu entre o Brasil, a Itália e a Malásia. Publicou os livros de poemas Repátria no Brasil e na Itália (Selo Demônio Negro, 2015 e Carta Canta, 2017) e 16 poemas + 1 nos EUA (edição de autora, 2017), na Islândia (Sagarana forlag, 2017) e na China (Museu Minsheng, 2018), além da plaquette As curvas negras da terra / Las curvas negras de la tierra (edição bilíngue, Nosotros Editorial, 2019). Suas crônicas de viagem e uma breve prosa de autoficção foram reunidas no livro Errância (Edições Macondo e Sagarana forlag , 2019). Traduziu, entre outras, Elena Ferrante (Biblioteca Azul, 2016) e Igiaba Scego (Nós, 2018). É doutora em Literaturas Estrangeiras e Tradução pela Universidade de São Paulo, com uma tese sobre o acervo de cartas de amor de Giuseppe Ungaretti para Bruna Bianco. Atualmente vive na Islândia onde estuda língua e literatura islandesa.




















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