Peter Waterhouse (1956) é um poeta, tradutor, ensaísta, ficcionista e dramaturgo austríaco nascido em Berlim (Alemanha). Recebeu até o momento alguns dentre os mais significativos prêmios da literatura germanófona, entre eles o Prêmio H. C. Artmann (2004), o Prêmio de Literatura da Cidade de Viena (2008), o Prêmio Ernst Jandl (2011), o Grande Prêmio Nacional Austríaco (2012) e o Prêmio Heimrad Bäcker (2018).
O quarto texto que trago como curador da #tradução&poesia é “[Hinter den Türmen stehen Türme.]”, poema que integra o livro passim (1986). No centro da obra de Waterhouse está a Sprache: língua, linguagem. Uma simples frase pode ser escrita e corrigida (ou simplesmente repetida) consecutivas vezes ao longo de um poema ou até de um ensaio de Waterhouse, até que cada elemento dessa frase seja lido como se pela primeira vez; ou então – também com certa frequência – uma palavra comumente inadequada ao contexto de uma oração é plantada no próprio centro dessa oração. Podemos pensar, por exemplo, no ensaio que Waterhouse publicou em 2013 acerca de Hannah Arendt, cuja primeira frase é (escrita por Waterhouse originalmente
em inglês): “Hannah Arendt, the German philosopher, no not German, not philosopher, the historian, no not historian, the writer, no not writer, Hannah Arendt was born in Hannover in Germany and came to grow up in Königsberg, today Kaliningrad” (“Hannah Arendt, a filósofa alemã, não não alemã, não filósofa, a historiadora, não não historiadora, a escritora, não não escritora, Hannah Arendt nasceu em Hannover, Alemanha, e cresceu em Königsberg, hoje Kaliningrado”).
A literatura de Peter Waterhouse (os poemas, a ficção, os ensaios, a reflexão tradutória, a dramaturgia) parece, enfim, alcançar ou tentar alcançar através do estranhamento, do humor e até de certa ternura aquilo que a própria linguagem esconde de si em meio ao falar desavisado de todos os dias. Encontrar traços de uma nova linguagem debaixo, atrás, em cima, na frente e no centro da linguagem batida é, parece-me, o fio condutor da inquieta obra de Peter Waterhouse.
#tradução&poesia
MATHEUS GUMÉNIN BARRETO é poeta e tradutor mato-grossense. É autor dos livros de poemas A máquina de carregar nadas (7Letras, 2017), Poemas em torno do chão & Primeiros poemas (Carlini & Caniato, 2018), Mesmo que seja noite (Corsário-Satã, 2020) e História natural da febre (Corsário-Satã, 2022). Doutorando da USP, da Universidade de Leipzig e da Universidade de Salzburg na área de Língua e Literatura Alemãs – subárea tradução –, estudou também na Universidade de Heidelberg. Teve poemas seus traduzidos para o inglês, o espanhol, o alemão, o catalão e o italiano; e publicados em revistas ou antologias no Brasil, na Espanha, no México, em Portugal e nos EUA. Integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018 (França e Bélgica – Universidade Sorbonne) e a Giornata mondiale della poesia 2022 (Itália – Universidade de Roma). Publicou em periódicos ou em livros traduções de Bertolt Brecht, Ingeborg Bachmann, Johannes Bobrowski, Nelly Sachs, Paul Celan, Peter Waterhouse, Rainer Maria Rilke e outros.
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