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O alicate em versos de Natasha Félix, por Bárbara krauss


Meu primeiro contato com a poesia de Natasha Félix foi por um amigo que leu seus versos nos stories em uma madrugada da pandemia e pela manhã apagou. Eu ainda me lembro de entrar no site da editora às 4h da madrugada e comprar o livro me perguntando se a pessoa que prepararia o envio perceberia o absurdo. Ou não. Quem já leu (ou ouviu) os versos da poeta sabe que, assim como o título do livro, a atração é quase uma resposta do corpo ao imperativo. Compre o livro. Use o alicate agora.


Coleção Lança-Perfume das Edições Macondo, 2018




Devorei essa leitura em uma madrugada, deitada na cama, à meia luz. Tudo ali me convidava a criar o clima propício. Depois dessa leitura vieram muitas. Não faltaram amigos e afetos que me visitaram e me ouviram declamar S&M (parte de A dominadora que eu mais gosto), e a cada leitura eu percebia o que me atraia a esses versos: o desejo é construído nas lacunas, faz valer a ideia de que "o tesão não é a foda, é a expectativa" (como diz Alexandra Lucas Coelho em Meu amante de domingo).


E o que há entre um rosto e uma mão pronta para o tapa antes que essas duas peles se encontrem é isso: o tesão, a expectativa, a poesia de Natasha Félix. Que apresenta o universo sadomasoquista (ou relembra aos que já passearam por aqui) pelo que há de mais rico nele, a criação de novos desejos fora do sexo normativo que a sociedade nos impõe. Saber que é bom porque dói mais nos faz questionar: um coice pode ser sexo?



Nascida em Santos, Natasha Felix é educadora, escritora, redatora, poeta e, para além de tanto, performer. Ouvir sua poesia presencialmente foi um dos momentos de alegria para mim na FLIP de 2022. Ela me olhou na plateia acompanhando os versos de cor e assim conversamos pela primeira vez.


Ouvir sua poesia lida novamente, por alguém que não eu, ou meu amigo tímido, mas por ela, me fez ver a potência da arte contemporânea quando trabalhando o erótico: cada poema, assim como o sexo, só pode ser feito daquele jeito uma vez. Na contracorrente de um universo pasteurizado pelas repetições virtuais o sexo e a poesia. Um bom começo pra essa resistência.






Bárbara Krauss é jornalista formada pela UMESP e responsável pelo B de Barbárie, espaço de divulgação cultural e narrativas políticas nas plataformas do Youtube e do Instagram (@bdebarbarie) desde 2017.













A #poesiaqueer faz parte de nosso projeto de acervo literário, onde convidamos escritoras(es), tradutoras(es) e pesquisadoras(es) para realizar uma curadoria inclusiva, refletindo sobre questões do fazer literário, que envolvem especialmente raça, gênero e orientação sexual.


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